Nas primeiras décadas do século XX, o temor de setores da Igreja Católica e de setores da classe dominante na região do Cariri, de que a comunidade camponesa do "Caldeirão do beato José Lourenço fosse comunista", levou à uma campanha difamatória através dos órgãos de imprensa. No artigo "Imprensa, anticomunismo e fé: a destruição do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto nas representações da imprensa brasileira (1936-1937)"*, as historiadoras Maria de Fátima de Morais Pinho, pesquisadora do NEHSA e Sônia Meneses, discutem a disseminação do discurso anticomunista na imprensa e as repercussões do ataque à comunidade do Caldeirão. Mais um episódio da luta de classes no Cariri cearense.
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"Resumo: No município de Crato – CE formou-se sob a liderança de um beato negro, pobre, peregrino como outros tantos do sertão nordestino, de nome José Lourenço, uma comunidade denominada “Santa Cruz do Deserto”, conhecida como “Caldeirão do beato José Lourenço”. Tendo como principais características o trabalho e a fé, despertou na Igreja e elite local a desconfiança de que ali se organizava uma comunidade comunista. Com medo de que se tornasse uma nova Canudos, aliaram-se ao governo do Estado para promover uma campanha difamatória, preconceituosa, dedicada a destruir a comunidade e o seu líder. Esse artigo pretende analisar, portanto, como tais discursos foram disseminados através da imprensa do país. Dado o considerável montante de jornais que abordaram o tema na época, intenta-se trazer apenas uma mostra daquilo que se formulou em dois momentos distintos: a invasão da comunidade e a dispersão dos habitantes pelas tropas do tenente José Góis de Campos Barros em 1936 e o confronto com os remanescentes que se abrigaram na serra do Araripe, chefiado pelo capitão José Bezerra, resultando em sua morte, do seu filho e de mais cinco soldados, do beato Severino Tavares e dezenas de camponeses em 1937".
* O artigo foi publicado originalmente na Revista em Perspectiva, no ano de 2017 - http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/40198