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Propriedade, crime e natureza no Cariri cearense



Quando o discurso sobre a preservação da natureza serve de recurso político em defesa da estrutura agrária e para a submissão dos trabalhadores. Eis a análise realizada por Johnnys Alencar e Lina Maria Aras, no artigo “A acção destruidora do fogo e do machado”: propriedade, crime e natureza na Serra do Araripe, Cariri cearense, no início do século XX. Com análise acurada e utilizando jornais do início do século XX, os autores debatem os conflitos e resistências na região do Cariri cearense.


Exemplo de fonte utilizada:

"PELAS MATAS
Todos conhecem, todos clamam que hoje em nossos dias, já não é o Cariry tão fertil, tão abundante¸ tão productor como há meio seculo atraz – os rios eram profundos e caudaes, os brejos eram taes que em muitas partes não se prestavam ao plantio da canna visto serem pantanos inaccessiveis, charcos extensos, e sómente, nos terrenos lateraes e mais elivados vicejavam vigorosos cannaviaes e verdejantes seares; por toda parte força e vigor, e a floresta virgem estendendo-se por vales e serras em toda sua pujança e vigor atestava a feracidade do solo. Mas hoje estancam as fontes, minguam os rios, secam os brejos que estão transformados em terrenos aridos e escalvados quase improductivos, desaparece a fertilidade e vem substituíl-a a esterilidade, e as seccas a nos surprehenderem constantemente, aniquilando nossas lavouras, principal fonte de nossa riqueza" (A Liça, Crato, 26 de agosto de 1903, p. 1.)


"No ano de 1903, no jornal A Liça, foi publicado o texto intitulado “Pelas Matas”, um apelo que aparentemente se expressava pela defesa de uma conservação das florestas e pelo bem que estas poderiam causar se fossem conservadas. Entendemos, ao ler, em um primeiro momento, que se tratava de uma forma de se comportar própria daquele período, pelo desejo de novas relações do homem “moderno” com o espaço por ele habitado.
Deste artigo, no entanto, resultou a busca em tensionar os discursos em torno da preservação com a estrutura agrária e fundiária, que era vivenciada pelos trabalhadores pobres. Acreditamos que privar o acesso à terra àqueles que vivem dela, mas que não são donos, em nome da conservação das matas, foi uma das formas encontradas pela elite senhorial/intelectual de garantir que estes continuassem submissos enquanto trabalhadores".


Acesse o texto completo, publicado na Revista Sertão História.

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