top of page

A mercadoria, seus valores e o fetichismo

Dando continuidade ao relato das sessões de estudo de O Capital, hoje apresentaremos o sumário sobre o capítulo 1, "A mercadoria". Esclarecemos que é necessário ler a obra, este texto não é um resumo, mas sim observações da leitura realizada.

Como explicamos anteriormente, no livro 1, o capital é analisado no processo de produção, na criação do mais-valor, na sua acumulação, em relação direta com a exploração da força de trabalho assalariado:


"Significa que o capital tem uma história, ele não existe de forma apriorística, ele é uma relação social. Nem o dinheiro, nem as mercadorias, são por si sós, capital. Para se tornarem capital, são necessárias circunstâncias históricas que se defrontam. Portanto, o capital não é apenas uma "coisa", mas sim uma relação social que toma a "forma de coisas". E por que isso é importante? Sob a forma do capital, os meios se transformam em instrumento de dominação da burguesia, na subordinação dos trabalhadores aos capitalistas".





No capítulo intitulado "A mercadoria", Karl Max define ao leitor o que são as mercadorias, coisas que nos deparamos todos os dias, que são negociadas no mercado, no caso, o mercado capitalista, objetos que por suas propriedades, satisfazem as necessidades humanas. De início, explica quais são e como se relacionam, os fatores da mercadoria: o valor, o valor de uso e o valor de troca.


O valor é o "tempo de trabalho social necessário" para a produção das mercadorias.


Neste capítulo, Marx demonstra a importância do trabalho humano como criador de valor, algo que existe em todas as mercadorias, algo objetivo, porém, imaterial. Além disso, na explicação é possível perceber que para Marx, o trabalho é condição da existência humana, mediação do metabolismo entre os seres humanos e a natureza. Mas o trabalho não acontece numa espécie de "vácuo histórico", no Capitalismo, por exemplo, existe a divisão social do trabalho mais complexa vista na história da humanidade.


O valor de uso está relacionado com a qualidade e a utilidade do objeto, não só das mercadorias, pois como bem explica Marx, nem todos os objetos são mercadorias, podem ser produtos do trabalho humano e não terem sido produzidos para a venda no mercado, e mesmo assim terem grande utilidade. (Recomendamos novamente a leitura deste capítulo!!!). Ou seja, o produto do trabalho humano só é transformado em mercadoria em determinada época histórica.


O valor de troca é quantitativo, está relacionado com os equivalentes potenciais das mercadorias, com seus valores relativos. Na relação entre valor, valor de uso e valor de troca, podemos perceber que as mercadorias só encarnam valor na medida em que são expressão da mesma substância social: o trabalho humano. Portanto, o valor é uma relação social, que manifesta-se no momento em que as mercadorias são trocadas. Neste capítulo, Marx explica a forma de valor simples, individual ou ocasional, e também a forma de valor relativa. De maneira que as mercadorias se relacionam.


Em seguida, Karl Marx discute o caráter fetichista das relações sociais do mundo das mercadorias, o "fetichismo da mercadoria". Passa a analisar os "mistérios" da Economia Política Clássica, as práticas sociais que distorcem e invertem as relações sociais de maneira que as pessoas se tornam prisioneiras do modo de produção capitalista.




O fetichismo da mercadoria não é somente uma ilusão real, uma representação, mas também prática que distorce o sentido das coisas, que submete a maioria das pessoas. Os trabalhadores produzem as mercadorias, mas são controlados pela ordem calcada no "mercado".


"Os homens não relacionam entre si seus produtos de trabalho como valores por considerarem essas coisas meros invólucros materiais de trabalho humano de mesmo tipo. Ao contrário. Porque equiparam entre si seus produtos de diferentes tipos na troca, como valores, eles equiparam entre si sues diferentes trabalhos como trabalho humano. Eles não sabem disso, mas o fazem. Pois na testa do valor não vai escrito o que ele é. O valor converte, antes, todo o produto do trabalho num hieróglifo social. Mais tarde, os homens tentam decifrar o sentido desse hieróglifo, desvelar o segredo de seu próprio produto social, pois a determinação dos objetos de uso como valores é seu produto social tanto quanto a linguagem". (MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política: livro 1: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2017, p. 149)


Marx explica que o sistema de mercado e a forma dinheiro disfarçam as relações sociais reais, por meio da troca das mercadorias.


Os produtores isolados produzem as mercadorias que chegam ao mercado com seus valores de troca, os caracteres sociais de seus trabalhos privados aparecem apenas no âmbito da troca mercantil. O mercado interfere no valor, o que é decisivo para que ocorra a abundância de mercadorias para algumas pessoas, o não acesso para milhões de outras pessoas.


Os economistas burgueses reconhecem que o o valor das mercadorias está diretamente relacionado ao trabalho humano, destacam que o preço das mercadorias tem relação com a oferta e a procura, mas não querem demonstrar a relação entre o valor, o valor de uso e o valor de troca, que é onde reside a exploração do trabalho humano no Capitalismo. Marx demonstra que o "mercado" não é o reino da "liberdade" de escolha, pelo contrário, as forças do "mercado" controlam as vidas de bilhões de pessoas no planeta, através da ordem social do Capital.


Nosso próxima atividade será estudar os capítulos 2 - O processo de troca; e 3- O dinheiro ou a circulação de mercadorias.

bottom of page